Uma Estranha Realidade (A Separate Reality)
Esse post é sobre um livro que eu li a uns tempos atrás e andei revendo uns conceitos oriundos dele nesses últimos dias. Se trata do livro “Uma Estranha Realidade” (A Separate Reality) do antropólogo Carlos Castañeda, escrito em 1971. O livro conta as experiências de vida de Castañeda no México, especialmente sua convivência com o índio sábio feiticeiro Don Juan Matus. Existem controvérsias quanto a autenticidade dos fatos expostos, embora eu não considere isso importante com relação ao assunto que tratarei.
O Carlos Castaneda era um estudante de antropologia, do curso de pós-graduação da Universidade da Califórnia, quando ele foi pro México, pesquisar sobre o peiote (Lophophora williamsii) e outras ervas medicinais utilizadas pelos índios da região.
Lá ele conheceu o Don Juan, que era um índio, um feiticeiro, um sábio; Sobre muitos assuntos eles conversaram e Castañeda ficou muito interessado no jeito de viver do Don Juan, nas coisas que ele pensava, ou não pensava. A filosofia de Don Juan é realmente algo único.
Os diálogos entre eles e a interação com outros personagens do livro é bem peculiar. Don Juan possui a mente aguda, e sua simplicidade única e fatal é muitas vezes surpreendente.
Segue abaixo uma parte de um diálogo do livro que vale a pena se frisar.
“(...) — Desde que resolveu vir ao México, devia ter deixado de lado todos os seus receios mesquinhos — disse Don Juan, muito severo — sua decisão de vir devia tê-los vencido. Veio por que quis. É assim que agem os guerreiros. Já lhe disse várias vezes: o meio mais eficaz de se viver é como guerreiro. Preocupe-se e pense antes de tomar qualquer decisão, porém, uma vez tomada, siga seu caminho, livre de preocupações e pensamentos; haverá mil outras decisões ainda à sua espera. É assim a maneira do guerreiro.
— Acredito que eu faça isso, Don Juan, pelo menos parte do tempo. Mais é muito difícil ficar-me lembrando.
— Um guerreiro pensa em sua morte quando as coisas se turvam.
— Isso é ainda mais difícil, Don Juan. Para a maioria das pessoas, a morte é muito vaga e remota. Nunca pensamos nela.
— Por que não?
— Por que pensar?
— Muito simples — disse ele — por que a idéia da morte é a única coisa que modera nossos espíritos.”
Outro trecho:
“ (...) — Aprendemos a pensar sobre tudo — disse Don Juan — e depois exercitamos nossos olhos para olharem como pensamos a respeito das coisas que olhamos. Olhamos para nós mesmos já pensando que somos importantes. E, por isso, temos de sentir-nos importantes! Mas quando o homem aprende a “ver”, entende que não pode mais pensar a respeito das coisas que ele olha, e se não pode mais pensar sobre as coisas que olha tudo fica sem importância...”
Don Juan, como um índio não tão ancião, já possuía muito conhecimento da vida, e das coisas. E no tempo dele essa sabedoria derivada de sua cultura já estava em queda. É pena não termos acesso à sabedoria antiga, de povos que não existem mais, que ficou perdida no tempo, ou foi destruída pelos homens durante guerras e conflitos desnecessários.
O assunto morte em si também é tomado de maneira sábia; a moderadora de espíritos? Será que realmente faz sentido?
O segundo trecho de diálogo é curioso também: Existe um bom motivo pra pensar? Na cidade onde eu vivo temos muitos nativos (e também não-nativos) que conhecem a fundo o estilo de vida “nothink”, embora não tenham nunca lido nada do Castañeda.
Essas e outras coisas me impressionam deveras.
Enfim, recomendo esse livro. Ele na verdade é o segundo da série, o primeiro lançado foi o “A Erva do Diabo” (The Teachings of Don Juan: A Yaqui Way of Knowledge) lançado em 1968.
Cerca de 10 livros foram escritos pelo Castañeda.
Links úteis:
- Várias entrevistas com Castañeda (em inglês): Nagualism
- Wikipédia (versão em inglês)
- Mais frases e pensamentos de Don Juan: PensadorInfo
Comentários
Acho que tenho um certo preconceito com esses livros do Castañeda...
Vença o seu preconceito e leia-o-o , kkkkkkkkk