Caras durões escrevem poesia (parte final)
Parte final da entrevista com old Buk.
Sobre psiquiatria:
O que os pacientes dos psiquiatras ganham? Ganham a conta das consultas pra pagar.
Eu penso que o problema entre o psiquiatra e o paciente é que o psiquiatra se guia pelo livro, enquanto o paciente chega por causa do que a vida fez com ele ou com ela. E mesmo o livro tendo certos insights, as páginas são sempre as mesmas, e, cada paciente é um pouco diferente. Existem muito mais problemas individuais do que páginas. Entendeu? Existem muitas pessoas loucas para fazer isso dizendo “tantos dólares por hora, quando esse sino tocar, seu horário terminou”. Só isso já basta para levar qualquer pessoa perto do colapso à loucura completa. Eles acabam de começar a se abrir e se sentirem melhor quando o psiquiatra diz “enfermeira, marque a próxima consulta”, e eles ficam perdidos ao pensar no preço, que, aliás, é anormal. É tudo muito ordinário, muito material e concreto. O cara está aí fora para te extorquir. Ele não está aí para te curar. Ele quer o dinheiro dele. Quando o sino toca, traga o próximo “louco”. Agora o “doido” sensível irá perceber que quando aquele sino toca ele está sendo fodido. Não existe tempo limite para curar a loucura, e não existem contas para serem cobradas sobre isso também. A maior dos psiquiatras que eu tenho visto estão também bem perto do limite da sanidade. Mas eles estão muito confortáveis... todos eles confortáveis demais... Creio que um paciente quer ver um pouco de loucura, não muito. Ahhhh! (entediado) PSIQUIATRAS SÃO TOTALMENTE INÚTEIS! Próxima questão?
Sobre fé:
Fé é boa para aqueles que a tem. Só não coloque esse peso sobre mim. Eu tenho mais fé no meu encanador do que na existência eterna. Encanadores fazem um bom trabalho. Eles mantém a merda fluindo.
Sobre cinismo:
Eu sempre fui acusado de ser cínico. Eu acredito que o cinismo indica que existe raiva por você não ter conseguido sucesso
Sobre a moral convencional:
Pode não se tornar um inferno, mas aqueles que julgam podem criar um. Eu penso que as pessoas são “super-ensinadas”. Em tudo elas são ensinadas além do necessário. Você tem que descobrir de acordo com o que acontece com você, como você irá reagir. Terei que usar um termo estranho aqui... “bondade”. Eu não sei de onde isso vem, mas eu sinto que existe uma última força de bondade que nasce em cada um de nós. Não creio em Deus, mas eu acredito que essa “bondade” é como um tubo, percorrendo nosso corpo. Ele pode ser nutrido. É sempre algo mágico, quando numa estrada completamente lotada, com alto tráfego, um estranho abre espaço para você mudar de faixas... isso te dá esperança.
Sobre ser entrevistado:
É quase como ser surpreendido numa esquina. É constrangedor. Então, eu não digo sempre a verdade completa. Eu gosto de brincar um pouco e enrolar de leve, então eu dou umas informações meio incertas pelo bem do entretenimento e as outras besteiras. Então, se você quer saber algo sobre mim, nunca leia uma entrevista. Ignore essa.
Interview Magazine, Setembro 1987.
Essa entrevista foi traduzida por mim, do original encontrado aqui.
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